terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O Sistema e o Relógio

O relógio precisa de engrenagens que girem em uma determinada direção e outras que girem no sentido oposto para funcionar. A sociedade subsiste da mesma maneira. Precisa daqueles que corroboram com o sistema e daqueles que lhe fazem oposição. Ambos são necessários para seu funcionamento. Ambos fazem com que o relógio continue trabalhando e não importa quão contrária seja uma engrenagem. Ela sempre fará parte do relógio. Pode-se ser muito crítico ou alienado. Um cidadão de "bem" ou um traficante. Todos são engrenagens do sistema.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Livro

Penso que a vida às vezes é como um livro. Começa tímida. Informe. Vai gradativamente sendo escrita, ganhando volume e forma. Algumas vezes é prazerosa e fácil. Outras, dolorosa e densa. Ela se desenvolve. Ela retrocede. Promete feitos e amores épicos. Mas também se conforma ao ordinário e ao medíocre.
Como todo livro, chega um instante em que ela termina. Com muito sentido ou sem mais nem menos. Havendo contado uma bela história ou  deixado muitos pontos de interrogação.
É... Viver é complicado.
É perigoso viver. Assim como é escrever...
Põe-se a caneta no papel e muitas vezes não se sabe o que irá surgir. Um "A", um "J", um "F"... Apenas se sabe que algo deve ser escrito.
Vivemos às vezes sem saber o porque. Sem saber o que escrever com nossas vidas. Por mais que haja outras personagens esperando uma ação nossa. Por mais que a história demande uma resposta específica. Sabemos somente que algo deve ser escrito, embora não saibamos o que. Talvez até saibamos, mas não queremos escrever. No entanto, para o livro continuar, é essencial que algo seja gravado no papel.

Escrever é algo muito perigoso... Escrever na vida pressupõe escrever sem borracha. Sem corretivo. Apenas com tinta. Não há como apagar erros de tinta. Não na vida. Mas o medo de escrever também é perigoso. Os grandes feitos foram imortalizados na escrita. Tanto os bons, quanto os maus. Se não ousarmos escrever o que iremos transmitir? Que história iremos contar?

Para falar a verdade escrever é difícil. Toda escrita tem seu valor. Mas uma escrita trabalhada, refletida, ponderada, profunda e simples não nasce da noite para o dia. É preciso parar de escrever. Voltar os olhos ao que já foi escrito e ler. Ler correndo o risco de encontrar erros de ortografia e pontuação. Letras e palavras erradas em lugares errados. Pontos colocados em lugares errados. A vida está cheia deles. Ler correndo o risco de não gostar do que foi escrito.

"Que estúpido o que escrevi. Posso apagar?"
Não, não pode. Pode escrever diferente, mas não apagar. A escrita errada faz parte da história.


"O que escrever a partir de agora?"
Honestamente... Não sei. Mas ainda que deseje finalizar o livro, algo deve ser escrito. Demore o tempo que precisar. Leia e releia quantas vezes forem necessárias. Mas escreva. Ainda que de maneira tímida. Ainda que com a mão tremendo, a letra "garranchada" , as lágrimas e o suor pingando no papel... Escreva. Viva.


Muitas vezes ainda me preocupo em escrever algo que seja digno de ser lido. Escrever com minha vida algo que seja realmente importante. As pessoas que me amam e que eu amo acham minha escrita importante. Seja como for (Será?). Mas existem escritas que transcendem ao tempo e as eras. Escritas que transcendem o temporal. Quero um dia chegar a escrever assim. Nos meus momentos de maior orgulho e arrogância, acho que já cheguei lá. Mas quando me coloco a ler e a refletir vejo como ainda falta. Como ainda preciso aprender a escrever. Como ainda preciso aprender a viver.

Não sou um grande escritor. Estou desistindo de ser grande. Ambiciono apenas escrever. Apenas viver. Apenas marcar o papel com minha tinta. Não sou um grande escritor. Apenas quero escrever algo que quando for ler pela última vez, possa dizer: " É, valeu a pena. Não escrevi tudo certo, mas foi o que dei conta. Escrevi o necessário. Escrevi o importante. Valeu a pena. Posso parar de escrever feliz." Quem sabe ouse escrever como Paulo: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé."

Enfim... Resta escrever. Resta viver. E encontrar sentido nisso.
Resta seguir escrevendo. Até parar de vez.