Desde a infância sempre sonhei em ser um super-herói.
O tipo de cara que tem um super-poder e que o usa para o bem.
O tipo de cara que sempre faz o que é certo, que ama o bem e rejeita o mal.
O tipo de cara que salva a donzela em perigo e conquista seu coração.
Pois bem... Deixei de ser criança. Bom... Pelo menos é o que eu penso às vezes.
O importante mesmo é que não penso mais em ser super-herói. Não tenho nenhum super-poder. Não tenho nada super. Sou um cara ordinário, simples e complexo, como o restante do planeta.
Nem o negócio de fazer sempre o que é certo e rejeitar o mal consigo fazer.
Não existem donzelas esperando para ser salvas, e, se existirem, não sei se sou capaz de salvá-las.
Para falar a verdade, não consigo nem me salvar.
Não penso mais em conquistar corações. Um coração não se conquista. É algo tão precioso, que deve ser ofertado.
Se fosse me classificar como alguma coisa, acho que seria o vilão. Ou então o figurante inútil passando no fundo. Sabe aquele idiota que está no lugar errado e na hora errada?
Às vezes acho que me encaixo bem no papel...
O vilão sempre se opõe ao herói. O vilão sempre estraga tudo com a mocinha. O vilão vive em favor de lutar contra o que é bom.
Vejo-me sempre me opondo ao herói. Quando penso: "É assim que um herói age." Faço o oposto.
E quando se encontra a mocinha então?
Vilões não tem nem chance.
As mocinhas sempre olham para os heróis.
É o herói que todos querem. Mas é o vilão que todos encontram.
Analogia tosca. Muito rudimentar e pobre. Mas mesmo sendo débil, podemos refletir.
Heróis. Seres que realizam feitos extraordinários valendo-se de habilidades não usuais.
Vilões. Criaturas vis que buscam a destruição.
Donzelas/Mocinhas. Mulheres indefesas esperando para ser salvas. (Minhas amigas feministas que me perdoem...)
Figurante. O idiota no lugar errado e na hora errada.
Comumente os quatro tem papéis muito claros e distintos. É assim em Hollywood, é assim nos seriados, nas HQ's e desenhos.
Na vida real é diferente.
Na vida real, o herói, a donzela/mocinha, o vilão e o figurante são um só.
Todo dia travo minhas batalhas comigo mesmo. Meus valores se opondo aos desejos. Minha inutilidade e desejo de ser salvo digladiando-se contra o desejo de ser um salvador. O vilão sempre querendo só o caos.
Que coisa esquisita que eu sou.
O que é isso?
Da próxima vez que me olhar no espelho a quem verei?
Sou tudo. Menos o que eu deveria ser.
Pode-se perguntar: O que eu deveria ser?
O que eu não deveria ser?
Não sei.
Só sei que não sou o herói, nem o vilão, nem a mocinha, nem o figurante.
Sou todos eles e nenhum. Sou um e outro.
Sou possibilidade objetiva, esperando por revelar-se.