sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Amor Romântico

O amor romântico sempre é retratado como o sentimento que leva os amantes a superarem as barreiras sociais, familiares, econômicas, raciais, etc. Sempre um casal apaixonado contra todo o mundo, contra um sistema dominante e opressor, contra as regras estabelecidas e vigentes em seu tempo.

É um encontro de duas singularidades na construção de um nós que resiste a tudo e que subverte as estruturas externas e internas dos indivíduos. É um modo de existir intramundano que desafia não apenas os entes mais próximos, mas também os próprios indivíduos.

Descrito desta forma, vê-se seu caráter utópico e surreal. Parece que é impossível, meramente uma ilusão...

No entanto, quem pode viver sem utopia?

Quem pode apegar-se somente a realidade?

Uma dose de ilusão sempre é necessária.

Sonhar com o amor é imprescindível.

Alcançá-lo um dos grandes propósitos do existir humano.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Prisioneiro e os Espectros

Trancafiado em si mesmo ele não conhece o que é companhia. A umidade presente no ambiente e a sebe crescendo pela parede são tudo que ele conhece. As grades de sua prisão, apesar de enferrujadas permanecem fortes e inquebráveis. Ele vive sua prisão como um errante a perambular no deserto. Quando pensa que encontrou um oásis, ele descobre que não passava de uma miragem, uma ilusão criada pelos seus sentidos e pela sua mente a fim de enganar-lhe, de eliciar nele uma idéia de saciedade. Quando pensa que encontrou uma maneira de fugir ou uma companhia, descobre que as ferrugens neste tipo de metal não o enfraquecem... O deixam mais forte. Os sons que ele ouve na floresta ao redor e que parecem ser de alguma possível companhia não passam de algum animal movendo-se por entre as árvores ou um galho velho despencando e caindo com estrépito no chão.

Ele possui um semblante cansado. Um semblante de prisioneiro. Um semblante de solitário. Seu corpo lhe parece estranho. Como se não coubesse nele. Como se fosse pequeno demais para o conter e ao mesmo tempo grande demais para que ele o ocupasse. Ele vive sem lugar. Nem em si, encontra lugar para si mesmo.

A solidão é seu destino e sua maior companhia. Vez ou outra contempla alguns espectros, mas prefere a solidão a companhia deles. A presença dela é mais agradável. Ela é silenciosa. Ela o compreende e não cobra nada. Os espectros são barulhentos. Surgem de repente e sujam todo o ambiente com seu ectoplasma. Vivem gemendo e entoando canções sobre suas vidas. Um pairar perambulante, incerto... Chega a ser medonho. Ele conhece os espectros e eles o conhecem. São muito próximos. Deseja que eles não surjam mais. Deseja afastar-se deles. Mas é impossível. Os espectros são parte dele e saem dele. Ele é parte dos espectros. Descobriu isso após tentar ser corajoso e encará-los nos olhos. Descobriu que era seus próprios olhos que encarava e que era a si mesmo que via dentro dos olhos do espectro, mas não como um reflexo.

A solidão é uma moça que vive a andar por uma velha estrada pedregosa e desnivelada com um vestido acinzentado de cetim  os pés descalços. Seus cabelos negros e lisos esvoaçam ao vento, enquanto sua pele branca é golpeada fortemente pelo frio do inverno sem sofrer um dano sequer. Essa moça já esteve com vários homens e mulheres. Ela acompanha a história de cada um deles. Ela é companhia do prisioneiro, que pensa conhecê-la melhor que os outros. Ela caminha pela estrada, mas ao mesmo tempo está na cela.

Os espectros também conhecem a solidão. Ela também os conhece. Ela os revela e os convida para fora.
Eles a conhecem e a querem como companhia.

O prisioneiro tem esperança de sair do seu cárcere, do mausoléu. No entanto, ele sabe que ainda que saia, sua velha jovem companheira solidão e os espectros indesejados sempre estarão com ele.

Guerra e Paz

Ciclo eterno de alternâncias
Guerra e paz.
Desespero da mulher,
Sorriso da criança
Errância contumaz.

Emoção que escorre dos olhos,
Sentimento que flui nas veias,
Nó na garganta,
Amarr-ação apertada.

Sua técnica não conheço,
Imitá-la não sei.
Não é preciso.
Ela fala por si.

Arte das emoções.
Linguagem perfeita.
Basta o silêncio
Nos lábios e na alma
Para ouvi-la sussurrar.






terça-feira, 12 de novembro de 2013

Entrevista Alien

Se um alienígena me raptasse buscando conhecer a raça humana através de uma "entrevista com um espécime de um planeta desconhecido", não teria muito o que dizer.

Diria que somos uma espécie estranha.

Vivemos em busca de vida em outros planetas, mas não nos importamos com as milhares de vidas que se perdem pela desigualdade social.
Vivemos em busca de vida diferente fora da terra, mas não aceitamos nem pessoas com cor, físico, orientação sexual e outras coisas diferentes das nossas.
Vivemos em busca de um planeta com condições semelhantes as da Terra, mas estamos destruindo nosso próprio mundo.

Diria que há homens que se julgam mais homens que os outros pela classe social que ocupam.
Diria que há intelectuais que mesmo com a experiência contrária ainda acreditam na dignidade humana.
Diria que há aqueles que já desistiram de acreditar na humanidade.
Diria que às vezes a vida de outro homem vale menos que um monte de pó ou um pouco de planta.
Diria que os homens passam a vida em busca do poder, em busca de prazer, em busca de amor, em busca de sentido e morrem sem nada.

Diria que o que há de bom no mundo dos homens é vez ou outra ser tocado, ser quase entendido por outro humano e o quão difícil é que isso aconteça.
Diria que há aqueles que choram em silêncio para parecer que são felizes.
Que há aqueles que são felizes mesmo sem ter o que comer.

Diria que o amor existe. Apenas é difícil de ser encontrado.
Diria que o ódio é forte. Mas para se fortificar esgota aquele que o possui.
Diria que a felicidade não é ter tudo. É estar saciado com o que se tem e acima de tudo, com o que se é.
Diria que o medo nos impede de arriscar o novo, mas que a fé muitas vezes faz-nos saltar abismos.

Diria que odeio ser homem. Que ser homem é ser frágil, é ser fraqueza violentada por toda a natureza.
Diria que odeio ser homem. Quer ser homem é viver pouco tempo e perder todos e tudo que se ama.
Diria que odeio ser homem. Ser homem é sempre ser contradição, é buscar afundar-se em vícios, hedonismo e entretenimento para não encarar o real.
Diria que odeio ser homem. Ser homem é muitas vezes ferrar com a própria vida.

Diria que amo ser homem. Ser homem é olhar o outro e poder respeitá-lo.
Diria que amo ser homem. Ser homem é descobrir como ser e correr atrás disso.
Diria que amo ser homem. Ser homem é encontrar e permitir ser encontrado por alguém.
Diria que amo ser homem. Ser homem é saber que a efemeridade e a possibilidade da perda tornam cada momento único.

Diria que odeio e amo ser homem. Diria que não sei o que é ser homem. Diria que não sou o que gostaria. Diria que tenho o costume de me sabotar. Diria que sou um aprendiz.

Diria que acredito em um Deus. Ainda que às vezes não.
Diria que acreditar me faz homem.
E que ser homem me faz tudo mais.

Se ainda assim, os alienígenas não entendessem, diria a eles que é impossível. 
Só quem é homem sabe como é.

Só quem é homem sabe "a dor e a delícia que é ser si mesmo".

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Casal Apaixonado

Pintei-te com minha tinta e pintado por ti fui.
Te esculpi com minhas mãos e das tuas mãos fui feito.
Temperei-te com meus sabores e por ti fui temperado.
Tu és o que fiz. Eu sou o que fizeste.

Amei-te com meus amores.
Te odiei com ardores.
Ares e dores
Em ti encontrei.

O berço e a mão que o balança,
A ama e a criança,
O futuro e a esperança
A guerra e a matança.

Assim somos nós.

O complexo e o singelo,
O feio e o belo,
O desleixo e o esmero
O quero e o não quero.

Asim somos nós.

Canção da noite e do dia,
Grito de dor e de alegria,
Orquestra em harmonia e desarmonia,
Existência em deleite e em agonia.

Assim somos nós.

Somos dois.
Somos um.
Somos ambos
E ao mesmo tempo nenhum.

Somos o peso do papel,
Somos o calcanhar de aquiles,

A espada e o broquel.

Somos ferida a sangrar.

Somos chama pondo-se a queimar.
Somos homem em mais puro desatino.

Somos bicho no mais puro instinto.

Somos fogo incendiando o bosque,

Somos chuva temporã que traz vida.
Somos a beleza da vida e da morte.
Somos existência vivida. 

Morte

Olhar distante, 
Mente viajante
Olhando na janela (da vida?).

Braço repousado,
Corpo reclinado
Descansando da lida
Sem saber entrar ou sair.

Delírio profundo,
Pensamento d'outro mundo.
Quer chegar ou partir?

Barco a vela,
Desenhado por aquela
Mão que tudo faz.
Ir ou vir?

Oceano tão incerto,
Tão profundo, tão singelo
E belo.
Hei de mergulhar em ti?

Carne crua
Natureza nua
Esta é, pois
Sua canção de ninar?

Caminhar sôfrego,
Vento fugaz,
Tempo voraz,
Apressado em partir.

Deita em tua cama,
Sai da janela
Porque agora
Vais repousar.

A fadiga se finda,
O cansaço termina,
O sono já chega
E o olho a pesar.

Não haverá sonho,
Nem despertar.
Não se levante,
Preocupa-te apenas em deitar.

Segue o infante
Que por muito peregrinou errante
E que só soube
Que o que havia era o caminhar.

Tudo que eu sou é o que eu não deveria ser

Desde a infância sempre sonhei em ser um super-herói. 
O tipo de cara que tem um super-poder e que o usa para o bem. 
O tipo de cara que sempre faz o que é certo, que ama o bem e rejeita o mal. 
O tipo de cara que salva a donzela em perigo e conquista seu coração.

Pois bem... Deixei de ser criança. Bom... Pelo menos é o que eu penso às vezes.


O importante mesmo é que não penso mais em ser super-herói. Não tenho nenhum super-poder. Não tenho nada super. Sou um cara ordinário, simples e complexo, como o restante do planeta.
Nem o negócio de fazer sempre o que é certo e rejeitar o mal consigo fazer.
Não existem donzelas esperando para ser salvas, e, se existirem, não sei se sou capaz de salvá-las.
Para falar a verdade, não consigo nem me salvar.
Não penso mais em conquistar corações. Um coração não se conquista. É algo tão precioso, que deve ser ofertado.


Se fosse me classificar como alguma coisa, acho que seria o vilão. Ou então o figurante inútil passando no fundo. Sabe aquele idiota que está no lugar errado e na hora errada?

Às vezes acho que me encaixo bem no papel...


O vilão sempre se opõe ao herói. O vilão sempre estraga tudo com a mocinha. O vilão vive em favor de lutar contra o que é bom.

Vejo-me sempre me opondo ao herói. Quando penso: "É assim que um herói age." Faço o oposto.
E quando se encontra a mocinha então?
Vilões não tem nem chance.
As mocinhas sempre olham para os heróis. 

É o herói que todos querem. Mas é o vilão que todos encontram.

Analogia tosca. Muito rudimentar e pobre. Mas mesmo sendo débil, podemos refletir.

Heróis. Seres que realizam feitos extraordinários valendo-se de habilidades não usuais.
Vilões. Criaturas vis que buscam a destruição.
Donzelas/Mocinhas. Mulheres indefesas esperando para ser salvas. (Minhas amigas feministas que me perdoem...)
Figurante. O idiota no lugar errado e na hora errada.

Comumente os quatro tem papéis muito claros e distintos. É assim em Hollywood, é assim nos seriados, nas HQ's e desenhos.

Na vida real é diferente.

Na vida real, o herói, a donzela/mocinha, o vilão e o figurante são um só.

Todo dia travo minhas batalhas comigo mesmo. Meus valores se opondo aos desejos. Minha inutilidade e desejo de ser salvo digladiando-se contra o desejo de ser um salvador. O vilão sempre querendo só o caos.


Que coisa esquisita que eu sou.
O que é isso?
Da próxima vez que me olhar no espelho a quem verei?

Sou tudo. Menos o que eu deveria ser.


Pode-se perguntar: O que eu deveria ser?
O que eu não deveria ser?


Não sei. 

Só sei que não sou o herói, nem o vilão, nem a mocinha, nem o figurante.

Sou todos eles e nenhum. Sou um e outro. 


Sou possibilidade objetiva, esperando por revelar-se.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Porão

Tenho um porão
Onde jogo todas as coisas indesejadas.
Quem se aproxima demais
Vai ganhando mais acesso a casa
E pode ver o porão com o tempo.
Tenho medo que as pessoas o vejam.

Todos temos medo que vejam o que há de pior em nós.
É por isso que jogamos o lixo fora em sacos escuros.
É por isso que mantemos as luzes apagadas.


Medo de ser visto de perto.
Medo de ver as células mortas.
Medo de ver o "dark side of the moon".
Somos cheios de medo.

Crianças deitadas no escuro com medo do bicho-papão.
Por que temos medo até de ter medo?
Medo de não sermos aceitos?


Porque tanto medo?
Do que você tem medo?
Do que eu tenho medo?

domingo, 3 de novembro de 2013

Filme

"Quando era mais jovem, li a seguinte frase: “Vivemos e morremos sozinhos. Todo o resto é uma ilusão”. Isso me tirava o sono à noite.

Todos nós morremos sozinhos. Então pra que passar a vida trabalhando, suando, batalhando e tentando ter tudo e às vezes a qualquer custo? 

Por uma ilusão? 

Porque nenhum grupo de amigos ou colegas de trabalho, nenhuma mulher, nenhuma tarefa escolar sobre a conjugação de verbo ou sobre a raiz quadrada da hipotenusa, nenhuma posição elevada na sociedade, vai mudar nosso destino.

Tenho coisa melhor pra fazer. E estou fazendo. Vivendo o dia de hoje, como se fosse morrer amanhã!"

A Arte da Conquista - Filme

Esse filme é uma sensibilidade única. Filme marcante.
Sou apaixonado por ele também.

Apaixonar-se


Descobri recentemente que sou visto como alguém que se apaixona demais.

Relutei por um instante, mas cheguei a conclusão que é verdade.

Sou um apaixonado pela vida. 

Sou apaixonado pela angústia.
Sou apaixonado pelo canto dos pássaros, pelo brilho do sol, da lua e das estrelas.
Sou apaixonado pelos animais, pelos sorrisos invasivos que cortam a face.
Sou apaixonado pela lágrima tímida que rola pela face, pelo choro copioso que vem da alma.

Com certeza. Sou apaixonado.

Sofro minhas paixões.
Sofro, porque sofrer é mudar e cada paixão nos muda.
Cada paixão nos marca.

Vez ou outra me apaixono por pessoas.
Pessoas marcantes e críticas, pessoas diferentes e tímidas.

Me apaixono pelas minhas amizades.
Tenho tesão pela companhia deles.

Há também paixões mais incômodas e invasivas...
Paixões românticas.
Vez ou outra elas surgem também.
Surgem e vão embora.
Como tudo na vida.

O que resta então do viver?
Resta apaixonar-se.

Resta arriscar-se.
Resta viver.
Encantar-se e desencantar-se.
Ciclo sem fim.
Até que o fim chegue.

Solidão

Trancafiado em seus próprios porões.
Achado em seu cativeiro.
Aprisionado em sua solidão.

Doce prisão.
Amarga prisão.
Estranha prisão.

Vez ou outra um companheiro de cela surge,
Vez ou outra um companheiro de cela foge.
Não, não foge. Ele o liberta.

Às vezes quer companhia,
Apenas para se lembrar depois
Que nascemos e morremos sós.

Medo.
Culpa.
Incerteza.

Angústia.
Desespero.
Vileza.

Sucumbem diante da luz que lhe surge.
Achado em sua solidão.
Encontrado na prisão.

Está sempre sozinho
E ao mesmo tempo não.
Tem companhia.

Eterna companhia.
Há esperança,
Mesmo em meio ao desespero.

Companhia.
Encontrou companhia.
Mesmo em meio a sua solidão.

Existindo...

Corro desesperado seguindo um caminho que embora existisse há muito, constitui-se em novo ao ser por mim trilhado.

Estrada incerta, e embora tenha um destino, leva a lugar nenhum. É um caminho onde posso avançar e retroceder, até que chegue ao fim.
O início se confunde com o final.

Encontro viandantes também sempre apressados...
Este caminho só se trilha correndo.

Esgota-se como água ao cair no chão do deserto a esperança do caminhante.
Desaparece como as estrelas ao amanhecer o sorriso do errante.
Constata que tudo é risco.

O próprio caminhar é incerteza. É fé dar um passo após o outro, acreditar que o corpo aguentará o peso sem sucumbir a lei da gravidade e a gravidade da lei.

Crê na esperança contra a esperança.
Lança-te no abismo.

Podes ser que alguém te segure.

Crede que Deus sustentar-te-á com a mão.
Lança-te em fé.

Nada além disso podes fazer.

Caminha, mas sempre crendo.
Caminha, mas sempre seguro em meio a insegurança.
Caminha.
Simplesmente caminha.

Caminha sempre no Caminho.