quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Acreditava

Acreditava no céu. Quando olhava para cima via pássaros.
Deixei de acreditar.
Os pássaros sumiram.

Acreditava no mar. Quando nele mergulhava nadava com peixes.
Deixei de acreditar.
Hoje parei de mergulhar.

Acreditava na terra. Caminhava sobre ela.
Deixei de acreditar.
Não tenho onde caminhar.

Acreditava em mim.
Deixei de acreditar.
Sou mentiroso.

Acreditava em nada.
Deixei de acreditar.
Não acredito em nada.

A porta

Abri a porta de casa.
Chamei uma moça que passava na rua.
Ela me deu uma pedrada.
Chorei. Sangrou.

A porta de casa aberta.
Eu sangro e choro.
Quero entrar,
Enquanto a moça se vai.

Tenho medo.
Medo de entrar e nunca mais abrir a porta.
Tenho medo da porta.
Ela abre e fecha.

Tenho medo da porta.
Sou eu que a abro ou a fecho.
Tenho medo de mim.
A porta é minha.

A porta sou eu.

Devo, Não nego e não pago

Às vezes queria mergulhar no poema
E me fazer poesia.

Eis aqui meu dilema:
Não ser o que devia.

O que devo
Não pago.

Estou em débito,
Sem pagar.

Processe-me
Que eu processo-me.

Procurando eu

Me procurando, esbarrei comigo. Dis(z)traida-mente. Foi só quando deixei de procurar com atenção e me deixei ao acaso, é que me achei. Olhei em meus olhos e me olhei de volta. Peguei minha mão e ela me pegou. Beijei minha boca e cuspi. Cuspi eu.
O eu que encontrara não era tão eu. O eu que cuspi, nem sei se era eu. Afinal de contas, quem eu era? Quem eu sou? Meu encontro comigo, foi desencontro.
Procurando quem eu era, perdi o que sou. Perdendo quem eu era, me tornei o que sou. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?
Quem poderá me achar, se sou desencontro? Onde vou, lá estou. Ao me procurar, já fugi. E na fuga um encontro. E no encontro, desencontrar.
Eu, eu, eu. Quem eu sou?