sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Insignificância e Vaidade

Sempre quis "mudar o mundo", "deixar minha marca", "fazer história". Ser alguém importante, alguém que se diferencie dos cerca de 7 bilhões de seres humanos neste planeta. Acho que todos desejamos isso. Bem lá no fundo. Ser imortalizados nas páginas dos livros, expor ao mundo sua maneira única de pensar, fazer coisas que ninguém mais fez...

Pra que?

Qual a finalidade disso?

Muitos dos meus antigos pensamentos tem caído por terra ultimamente. Isso é profundamente angustiante, mas é bom. Não sou mais o garoto ingênuo e fantasioso que já fui. Sou um sonhador? Sim. Um realista esperançoso? Absolutamente. Mas o digo somente porque todo sonho tem como base a realidade. O material dos sonhos é a realidade.

Conversava ontem com uma amiga muito querida sobre nossos delírios de grandeza em meio a nossa própria insignificância. Pensamos em fazer algo, em marcar o mundo... 

Mas não pensaram assim dezenas de milhares de pessoas antes de nós? O jovem que sofreu um acidente de carro ou motocicleta na última semana também não sonhava em mudar o mundo, em se fazer grande, em conquistar muito?

E onde estão esses sonhos agora? Onde estão aqueles que mudariam o mundo? Porventura alguém se lembra deles?

Queremos ser importantes. Ser reconhecidos. Blaise Pascal dizia que a vaidade do homem é tamanha que faz até mesmo com que ele deseje ser imortalizado, lembrado, ADORADO por outros homens. Queremos ser algo. Temos fome de ser. 

Mas em meio a essa fome, esquecemos de algo primordial da natureza humana: SOMOS INSIGNIFICANTES. Os sonhos de mudança se perdem conosco. A morte iguala todo o rebanho de condenados. Aquele que sonhou antes de nós em mudar o mundo... Aquele que desconhecemos exatamente porque caiu no esquecimento após sua morte... Onde está ele?

Deixe-me ser claro e dizer algo que me inquietou quando li em Schopenhauer, mas que é uma grande verdade: O mundo vai continuar existindo tranquilamente sem mim. Ele existiu sem mim. Guerras, vitórias, alegrias, tristezas... Tudo isso o mundo experimentou sem mim. E continuará quando eu me for. Minha presença na Terra não tem importância senão para mim e para aqueles que se importam comigo. Mas mesmo estes, continuarão a viver e muito bem após minha partida. Somos insignificantes.

Vejo gritos desesperados por mudança. Manifestações, greves, guerras... O que dizer? Devem continuar. Livros? Devem ser publicados. Mas tenhamos sempre consciência de que isso não passa de "vaidade, tudo é vaidade".

Cada um vive pela razão que conseguiu construir, pelos valores que se apropriou e fez seus no mundo. Cada um vive pelo sentido que consegue dar a sua vida.

Quanto a mim, não quero mudar o mundo. Não quero ser lembrado por pensamentos filosóficos e escritos em livros que existem aos milhões em bibliotecas por todo o mundo. O mundo não precisa de mais filósofos, cientistas, poetas, pastores, padres, monges, reis, políticos, trabalhadores. Ele já tem de sobra ao longo de sua história. Não preciso ser um reformador, um político, um guerrilheiro, um "Che Guevara". Preciso apenas ser eu. Ser eu em minha insignificância. Marcar o mundo daqueles que estão próximos e a quem amo e ser marcado por eles. Viver para o meu Deus, amá-Lo, me relacionar com Ele, Conhecê-Lo. O que mais eu posso querer além disso?

O que há maior que isso?

Gastar minha vida por uma causa que desconheço para ser lembrado por pessoas que possivelmente irão ignorar e desconhecer o que fiz?

O que há de maior que viver a vida que me foi concedida amando aqueles que estão próximos, marcando-os e sendo marcado por eles?
O que há de maior que viver o amor cristão e o relacionamento com o próprio Cristo?

O "resto" é vaidade. Vaidades de vaidades, diz o pregador. Tudo é vaidade.

* Esse pedaço vai especificamente para os cristãos:
Mudar o mundo... 
O que é isso?
"É cumprir o ide".
Pois bem... Que mundo você vai mudar quando não marca nem as pessoas ao seu redor?
Que mundo você irá mudar quando vive cheio de delírios de grandeza e seu Mestre te ordena a humildade e a servidão?
Para onde você vai se nem quem está próximo, quem mora na sua casa, convive com você dia após dia foi impactado com Cristo em você?
Sua missão não está apenas em ir para os confins da Terra. Sua missão está em marcar a vida de quem está próximo. Sua missão consiste em ser a diferença que almeja ver.
Seja, depois faça.



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Brilho

Há um brilho por detrás desse olhar. Um brilho que parece ir de encontro a minha escuridão.
Brilho a transmitir-me pureza, paz, amor, certeza.


Apenas um brilho és.
Luz inalcançável.
Assim como as estrelas, que apenas podem ser admiradas ao longe.

Expectativas

Me defino como um realista esperançoso. Não sou alguém que busca se encher de expectativas. Vez ou outras elas surgem... No entanto, tenho descoberto que o caminho mais rápido para a decepção e frustração é a expectativa. Esperar algo, seja de alguém ou de alguma situação (incluindo a si mesmo) geralmente nos frustra.

Uma ligação que nunca vem. Uma sms que nunca chega. Um eu te amo que nunca é dito. Um olhar não correspondido. Emoção mendigada...

Os pedintes com as mãos e chapéus estendidos esperando receber algo.
"_ Um olhar por favor?
Tenho fome. Tenho fome de atenção. Fome de afeto. Fome de carinho. Fome de fome."

Mendigos. Somos um bando de mendigos pedindo algo. O olhar do outro que nos move, que nos instiga, que nos faz andar.

É impossível viver sem esperar algo. Impossível não mendigar o futuro. A esperança de um amanhã muitas vezes é o que nos permite suportar o hoje. Esperar é contar com o que ainda não veio. É lançar-se no abismo da incerteza.

Gosto muito dessa palavra, por falar nisso. Abismo. Um espaço de queda. Um espaço de perda de estabilidade. Um espaço que é aterrorizante por dois motivos: pela queda e pelo fundo. O que há no fundo do abismo? Isso é, se tiver fundo.

A queda é aterrorizante. O corpo perde os referenciais de apoio. A mente perde o foco de pensamento. O abismo acaba com o equilíbrio. Ele instaura o desespero. É exatamente isso que é assustador.

O que esperar de uma queda? O que esperar de um olhar? O que esperar de um texto ou livro lido? O que esperar de uma dádiva ofertada? O que esperar de um futuro incerto, de um passado que grita no presente e de um presente que teima em ser presente?

Queria não esperar. Cessar as expectativas. Mas não há como. Viver é esperar. Esperar é viver.


domingo, 23 de fevereiro de 2014

Ocupado

Olhando através da janela do ônibus me coloco a observar muitas coisas. Não vejo carros passando, não vejo transeuntes nas calçadas, não vejo animais atravessando a rua. Vejo algo mais informe, mais incerto. Me coloco a observar dentro de mim. Paro finalmente para pensar nesse fluir contínuo que costumo chamar de existência, nesse movimento inconstante do existir, da tal da vida. Realmente tenho experimentado um tempo novo. Realmente conhecido gente nova, ido a novos lugares, feito novas coisas.

Ando ocupado com muita coisa. Muito para ler. Muito para estudar. Muito para fazer. Muito para existir.
Tenho me ocupado da minha vida. Não só me ocupado. Tenho me preocupado. Me preocupado com o rumo que ela leva. Me preocupado com o rumo que tudo leva. 

Será minha existência apenas mais uma palavra, uma vírgula ou um ponto em uma sentença que nada muda?
Será ela o ponto que faz a diferença, a palavra que muda a história?

O que fazer com a infinidade de pensamentos e emoções pululando do peito?

Cada vez mais "pístico" sigo a jornada. Um cavaleiro da fé que vez ou outra cai do cavalo.
Ando ocupado também com a cavalgada. Ando ocupado. Em uso. Cheio.

O que nos ocupa e nos preocupa?
Será que vale a pena?

Será que não é melhor o vazio?

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Nós Dois


Nesses últimos dias tenho me colocado muito a pensar em nós. Em quando fomos nós. Em quando nos fizemos nós. Nas mensagens até tarde na madrugada. Nas conversas todo dia de meia noite às três da manhã. Nas sete horas ininterruptas de conversa naquele sábado. Nos temas intermináveis e assuntos infindáveis de conversa. Nos nossos "eu te amo". Na minha "marmota" e no seu "marmotinha"... Fomos mais que apaixonados. Mais que namorados. Muito mais que um casal ensandecido trocando juras não cumpridas de amor.

Fomos nós. Tecemos nós. Atamos nós. Desatamos nós. Desfizemos nós.


Resta saudade.

... Te vi no ônibus essa noite... Te vi e não te vi nesses últimos dias. Não sei como vai. Não sei se está bem ou se está mal. Não sei se ainda pensa em mim. Não sei se pensa em nós. 

As pessoas tem dito que preciso de terapia... Talvez por isso me ponha a pensar em nós...

Nós nunca fomos os mais perfeitos. Nunca os mais belos, mais espertos ou mais felizes. Fomos uma breve união de opostos. Fomos um eclipse muito aguardado que por fim passa. A lua se entrecruzando com o sol, num brilho escuro e numa escuridão iluminada. Fomos o encontro entre o que jamais poderia ser, mas que ainda assim, lutou. Fomos o bebê não planejado durante um coito apressado e que teve que ser abortado. Fomos o encontro e o desencontro de dois estranhos familiares. Fomos nós.


Fizemos nós. Desfizemos nós. Desatamos nós.

Não somos mais nós. Somos pontas soltas. Pontas soltas que talvez um dia, façam nós com outro alguém.