quinta-feira, 26 de junho de 2014

Voz

Quando uma única voz quero ouvir
As vozes de todos vós não são voz.

Quando uma pele quero sentir
As peles de todos vós não tem sentido.

Quando uma única boca quero beijar
As bocas de todos vós não tem sabor.

Quando teu brilho quero ver
Os outros brilhos são escuridão.

Uma voz. Uma voz somente.
Uma voz.Uma voz semente.

Uma voz. Soa como um grito na multidão.
Uma voz. Nada mais.

Voz. Tua voz.
É ela que meus ouvidos aprenderam a ouvir.

Desilusão e Desencanto

Há algum tempo aprendi que uma dose de ilusão é sempre necessária. É sempre preciso que a gente fique meio tapado para gostar de algo ou alguém. Isso não é nenhum segredo. A gente costuma falsear um pouco a realidade para torná-la mais aceitável, mais "vivível". A realidade crua, sem nem um pouco de água ou gelo não dá para engolir. É forte demais. 
Falseamos a realidade em pequenas coisas do cotidiano. Um doce que gostamos e que é "o melhor doce do mundo", na verdade não é o melhor doce do mundo. Aquela pessoa que amamos e que é a "melhor pessoa para mim", "minha alma gêmea", "minha melhor escolha", na verdade não é isso tudo. Pode ser que existam pessoas com quem nos daríamos melhor...
Mas o que ocorre quando o encanto acaba? Quanto a solidez do sonho rui, quando a ponte da ilusão desaba?
O que ocorre quando o doce encanto se torna em amarga realidade?

Tudo que desaba sempre desaba em algum lugar. O encanto acaba para revelar outros encantos ou para mostrar a crueza do desencanto. A solidez rui para dar lugar a incerteza. A ponte desaba para mostrar que há abismos intransponíveis. 
Quando o doce encanto se torna amarga realidade há desilusão.

Aquilo que era falseado começa a aparecer. Os erros que já existiam se tornam mais gritantes.
As pessoas se tornam mais feias. As coisas se tornam mais coisas. O mundo se torna mais mundano.
As esperanças dão lugar as desesperanças. 
Não há perspectiva de cura. Pode-se curar alguém de qualquer coisa, mas não se pode curá-lo da realidade. Ela é uma doença sorrateira, que se infiltra debaixo da pele e vai destruindo uma a uma as células da ilusão. Ela não é transmissível, mas é gerada sexualmente, emocionalmente, intelectualmente, espiritualmente, humanamente. Seus sintomas são náusea, desânimo, indiferença, crueza, sinceridade, honestidade e um pouco de amargura.

Esse mundo mundano é fruto da desilusão. Essa senhora é esposa do desencanto. Eles estão aí. Andando descaradamente nas reportagens de tv, escondidos por detrás do que a mídia disfarça. Eles estão escondidos nos milhões de "eu te amo" ditos todos os dias. Estão escondidos nas pregações inflamadas de muitas pessoas que não vivem o que pregam. Estão presentes em todas as atividades humanas.

A desilusão e o desencanto são endemias humanas.