Vivemos cheios de certezas demais...
Temos todas as respostas...
Somos os tais...
Até que uma pergunta ou uma resposta diferente surja no repertório. Quando isso ocorre, a história muda. O chão firme torna-se areia movediça e cada movimento na busca de uma nova certeza culmina por sugar-nos para o fundo lentamente, instaurando o desespero e o vazio.
Na terra das incertezas não existe chão firme. Não existe dia ou noite, não existe claro nem escuro, céu ou inferno, bem ou mal, frio ou quente. Somente o morno... E o morno é intragável para quem só sabe engolir o quente e o frio. Quem não sabe, certamente vomitará.
Alguns dizem viver na incerteza, não tendo nada por certo.
Hipócritas.
A própria incerteza se constitui em uma certeza para os tais, de modo que por mais crítico e racional que um indivíduo seja, não poderá viver senão pelas certezas. Ainda que se valha da "dúvida metódica", oferecerá a si mesmo respostas que lhe aplaquem a incerteza.
Viver na incerteza é impossível. Precisamos ter certeza. Certeza do que?
Certeza de que estamos certos?
De que somos melhores que os outros?
De que somos "boas pessoas"?
Precisamos ter certeza... Mas somente o precisamos porque somos torteza.
A torteza quer ser e estar certa.
A torteza quer tornar-se certeza.
Tanta luta, tanta angústia, tanto desespero simplesmente por afirmação.
Simplesmente porque existe fome. Fome de ser.
No final, tudo o que somos é torteza. Por mais firmes que sejam nossas certezas.
As tempestades revelam... As tempestades revelam o que é rocha e o que é areia.
O que é rocha o que é areia?
Rocha é certeza. Areia é incerteza.
Rocha é certeza. Areia é incerteza.
Do que se pode ter certeza?
Pelo menos de uma coisa:
Somos incertos. Somos torteza.
Torteza em busca de certeza.