quinta-feira, 26 de junho de 2014

Desilusão e Desencanto

Há algum tempo aprendi que uma dose de ilusão é sempre necessária. É sempre preciso que a gente fique meio tapado para gostar de algo ou alguém. Isso não é nenhum segredo. A gente costuma falsear um pouco a realidade para torná-la mais aceitável, mais "vivível". A realidade crua, sem nem um pouco de água ou gelo não dá para engolir. É forte demais. 
Falseamos a realidade em pequenas coisas do cotidiano. Um doce que gostamos e que é "o melhor doce do mundo", na verdade não é o melhor doce do mundo. Aquela pessoa que amamos e que é a "melhor pessoa para mim", "minha alma gêmea", "minha melhor escolha", na verdade não é isso tudo. Pode ser que existam pessoas com quem nos daríamos melhor...
Mas o que ocorre quando o encanto acaba? Quanto a solidez do sonho rui, quando a ponte da ilusão desaba?
O que ocorre quando o doce encanto se torna em amarga realidade?

Tudo que desaba sempre desaba em algum lugar. O encanto acaba para revelar outros encantos ou para mostrar a crueza do desencanto. A solidez rui para dar lugar a incerteza. A ponte desaba para mostrar que há abismos intransponíveis. 
Quando o doce encanto se torna amarga realidade há desilusão.

Aquilo que era falseado começa a aparecer. Os erros que já existiam se tornam mais gritantes.
As pessoas se tornam mais feias. As coisas se tornam mais coisas. O mundo se torna mais mundano.
As esperanças dão lugar as desesperanças. 
Não há perspectiva de cura. Pode-se curar alguém de qualquer coisa, mas não se pode curá-lo da realidade. Ela é uma doença sorrateira, que se infiltra debaixo da pele e vai destruindo uma a uma as células da ilusão. Ela não é transmissível, mas é gerada sexualmente, emocionalmente, intelectualmente, espiritualmente, humanamente. Seus sintomas são náusea, desânimo, indiferença, crueza, sinceridade, honestidade e um pouco de amargura.

Esse mundo mundano é fruto da desilusão. Essa senhora é esposa do desencanto. Eles estão aí. Andando descaradamente nas reportagens de tv, escondidos por detrás do que a mídia disfarça. Eles estão escondidos nos milhões de "eu te amo" ditos todos os dias. Estão escondidos nas pregações inflamadas de muitas pessoas que não vivem o que pregam. Estão presentes em todas as atividades humanas.

A desilusão e o desencanto são endemias humanas.

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