sexta-feira, 28 de março de 2014

Estranheza

Sentia-se como um estrangeiro, um hóspede indesejado. Quem lhe era próximo, nunca se aproximara. Quem lhe era querido, ele não queria. Sua habitação era a estranheza. Era ordinário e banal, mas ainda assim, estranho.
Não possuía um sorriso encantador, um belo par de olhos azuis ou esverdeados. Não possuía os mais caros itens, os melhores amigos, os nobres títulos. Não possuía nem mesmo grandes realizações. Não tinha ninguém para chamar de seu e ele mesmo não se pertencia.
Preferia a solidão as grandes multidões e ainda em meio a elas, podia sentir-se só. Era íntimo da angústia e os dias chuvosos lhe eram mui caros. Amava aqueles dias cinzentos, a umidade no ar, o cheiro de terra molhada a invadir-lhe as narinas sem pedir permissão.
Não tinha certeza quem era e nem o que queria ser. Debruçava-se sobre um livro após o outro somente para ver como era fútil esse exercício. Ler, ler e reler. Ler, ler e mais ler. Tudo isso, para sucumbir sem nada ter aprendido.
Tanta vaidade.
Queria encontrar alguém e ser encontrado, mas amava se esconder. Fizera muralhas tão altas e sólidas que quase não podia escalá-las. Quando pensava encontrar alguém, mudava de ideia. Sempre fora incerto. Sempre fora assim, estranho. Vez após outra, olhava-se no espelho e se espantava com o que via. Quem era aquela figura?
Estranho. Não normal para si mesmo. Era permeado pelo amor e o ódio por si.
Diferente. Anormal, mas ao mesmo tempo comum. Simples e complexo.
Constante paradoxo em sua inconstância.
Estranho. Muito estranho. Muito si. E às vezes não.

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