sexta-feira, 28 de março de 2014

Mudança

Em sua atividade fútil e tosca de refletir, se pôs a pensar sobre a mudança. Da janela do ônibus olhou e viu adolescentes caminhando apressados rumo à escola. Lembrou-se de quando fazia o mesmo. De como se sentia empolgado por encontrar-se com sua turma e por poder flertar com algumas meninas. Mudara desde então. Já há muito não tinha uma turma, se é que algum dia tivera alguma e flertar já não era mais tão prazeroso.
Ultimamente tudo estava assim para ele. Meio vago. Meio sem sentido. A náusea embrulhava-lhe o estômago e sentia vertigens boa parte do tempo. Não queria mais uma turma. Possuía algumas amigas que lhe eram preciosas, mas não queria uma turma. Conhecia uma ou duas garotas que talvez se dispusessem a aturá-lo em um relacionamento, mas nem isso ele sabia se queria. Às vezes sim, outras não.
Era um solitário. Um estranho solitário. Cada vez mais mudado.
Não mudara de endereço. Não mudara de família. Mudara de roupa, de corte de cabelo, de visual. Mudara de conhecimento. Mudara de profissão. Mudara sua forma de pensar. Mudara de si. Um tijolo após o outro ele se mudava. Um tijolo após o outro ele se des-fazia. Não seguia uma planta pronta.
Não sabia o que fazer. Não sabia o que deveria ser. Sabia que estava mudando. Sabia que cada vez mais precisava de mudança. 
Doses cavalares de mudança. 
Ele amarrava seu braço vez após outra com um garrote, dava-lhe leves tapas para salientar as veias e injetava mudança. Era sua droga. Sua heroína particular. Mudança.

Nesse momento, crê precisar de mais uma dose. É um vício exigente.

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