sexta-feira, 9 de maio de 2014

Metrô

Ele sentou-se no banco ainda flutuando. E permaneceu flutuando em seu assento. 
A jovem ao seu lado perguntou-lhe se estava cansado. Realmente estava. Um pouco cansado. Um pouco sonolento, mas ao mesmo tempo, muito ele. Apoiou a cabeça na mão, com o cotovelo encostado na janela do metrô. Olhou para fora e viu os trilhos e as pedras, ficando para trás. Viu a grama, e se lembrou de quando a chuva cai, regando as plantas e o solo. O cheiro de terra molhada quase invadiu suas narinas. Era como se apenas ao rememorá-los, pudesse fazê-los existir.
Viu os trilhos ficando para trás e pensou no quanto de si já deixara para trás. Em como seu existir se esvaía depressa. Sentiu saudades do passado. Afinal de contas, era sobre isso que conversava com a jovem ao seu lado pouco tempo antes.
Lembrou-se dos seus entes queridos, ainda muito queridos, mas não mais entes. Daqueles a quem ele ama, mas que não mais existem. Curioso paradoxo: amar quem já não é, mas que ao mesmo tempo, jamais deixará de ser. Não eram estátuas ou obras de arte imortalizadas que ele trazia dentro de si. Era o próprio calor, o cheiro, a voz... São as próprias pessoas que moram dentro dele. Podem deixar de existir. Podem se afastar. Mas continuam morando dentro dele. É isso então o famoso co-existir - se apropriar de alguém de tal forma, que ele passa a morar dentro de você.
Os trilhos do metrô uma hora acabariam. Uma hora a viagem findaria. Mas eles sempre se lembrariam das rodas que passaram por ele.

Eu sempre me lembrarei das rodas que passaram por mim.

E é para vocês, que dedico este.
Queridas rodas que me marcaram e fizeram quem sou.
Queridas rodas que já não são, mas que ainda são em mim.
E sempre serão.

Amo vocês para sempre!

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