sábado, 4 de outubro de 2014

Insensível

Foi assim: De repente e gradativamente. Como uma borboleta que quebra o casulo. Des-cobri o que não mais poderia esconder. Estava ali. Outra vez. Onde jurara não mais ir. Meus pés trôpegos aprenderam a andar sós. Não mais pediam meu consentimento para o rumo que tomavam.

Podia des-conversar. Tentava mesmo fingir (e fugir), mas já era tarde demais. Me encontrava cativo.
Cativado e em cativeiro. 


Pensei, tolamente, que poderia resistir. Não podia. Agora sei. Amarguei quando senti na boca o gosto do mel que agora me doía, doce e amargo como vinagre. Parece que aquilo que fingimos evitar é o que sempre acabamos encontrando.

Seus olhos idiotas. Dois globos ridículos, penetrantes e belos, fixados em sua cabeça estúpida, juntamente com seu sorriso deslumbrante e maldito. Como era intenso esse olhar. Perscrutando-me, invadindo-me, dilacerando-me. "Coma sua carne", podia vê-los dizer. "Destrua sua alma. Faça como antes. Até que ele não mais seja. E possamos encontrar outro estúpido pelo caminho."

Não desta vez. Me fiz cego para não ver seus olhos. Me fiz surdo para não ouvir sua voz. A lepra me consumiu, a fim de que não precisasse sentir seu toque. Me fiz des-caminho para que não pudesse andar sobre mim.

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