terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Prisioneiro e os Espectros

Trancafiado em si mesmo ele não conhece o que é companhia. A umidade presente no ambiente e a sebe crescendo pela parede são tudo que ele conhece. As grades de sua prisão, apesar de enferrujadas permanecem fortes e inquebráveis. Ele vive sua prisão como um errante a perambular no deserto. Quando pensa que encontrou um oásis, ele descobre que não passava de uma miragem, uma ilusão criada pelos seus sentidos e pela sua mente a fim de enganar-lhe, de eliciar nele uma idéia de saciedade. Quando pensa que encontrou uma maneira de fugir ou uma companhia, descobre que as ferrugens neste tipo de metal não o enfraquecem... O deixam mais forte. Os sons que ele ouve na floresta ao redor e que parecem ser de alguma possível companhia não passam de algum animal movendo-se por entre as árvores ou um galho velho despencando e caindo com estrépito no chão.

Ele possui um semblante cansado. Um semblante de prisioneiro. Um semblante de solitário. Seu corpo lhe parece estranho. Como se não coubesse nele. Como se fosse pequeno demais para o conter e ao mesmo tempo grande demais para que ele o ocupasse. Ele vive sem lugar. Nem em si, encontra lugar para si mesmo.

A solidão é seu destino e sua maior companhia. Vez ou outra contempla alguns espectros, mas prefere a solidão a companhia deles. A presença dela é mais agradável. Ela é silenciosa. Ela o compreende e não cobra nada. Os espectros são barulhentos. Surgem de repente e sujam todo o ambiente com seu ectoplasma. Vivem gemendo e entoando canções sobre suas vidas. Um pairar perambulante, incerto... Chega a ser medonho. Ele conhece os espectros e eles o conhecem. São muito próximos. Deseja que eles não surjam mais. Deseja afastar-se deles. Mas é impossível. Os espectros são parte dele e saem dele. Ele é parte dos espectros. Descobriu isso após tentar ser corajoso e encará-los nos olhos. Descobriu que era seus próprios olhos que encarava e que era a si mesmo que via dentro dos olhos do espectro, mas não como um reflexo.

A solidão é uma moça que vive a andar por uma velha estrada pedregosa e desnivelada com um vestido acinzentado de cetim  os pés descalços. Seus cabelos negros e lisos esvoaçam ao vento, enquanto sua pele branca é golpeada fortemente pelo frio do inverno sem sofrer um dano sequer. Essa moça já esteve com vários homens e mulheres. Ela acompanha a história de cada um deles. Ela é companhia do prisioneiro, que pensa conhecê-la melhor que os outros. Ela caminha pela estrada, mas ao mesmo tempo está na cela.

Os espectros também conhecem a solidão. Ela também os conhece. Ela os revela e os convida para fora.
Eles a conhecem e a querem como companhia.

O prisioneiro tem esperança de sair do seu cárcere, do mausoléu. No entanto, ele sabe que ainda que saia, sua velha jovem companheira solidão e os espectros indesejados sempre estarão com ele.

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