Pintei-te com minha tinta e pintado por ti fui.
Te esculpi com minhas mãos e das tuas mãos fui feito.
Temperei-te com meus sabores e por ti fui temperado.
Tu és o que fiz. Eu sou o que fizeste.
Amei-te com meus amores.
Te odiei com ardores.
Ares e dores
Em ti encontrei.
O berço e a mão que o balança,
A ama e a criança,
O futuro e a esperança
A guerra e a matança.
Assim somos nós.
O complexo e o singelo,
O feio e o belo,
O desleixo e o esmero
O quero e o não quero.
Asim somos nós.
Canção da noite e do dia,
Grito de dor e de alegria,
Orquestra em harmonia e desarmonia,
Existência em deleite e em agonia.
Assim somos nós.
Somos dois.
Somos um.
Somos ambos
E ao mesmo tempo nenhum.
Somos o peso do papel,
Somos o calcanhar de aquiles,
A espada e o broquel.
Somos ferida a sangrar.
Somos chama pondo-se a queimar.
Somos homem em mais puro desatino.
Somos bicho no mais puro instinto.
Somos fogo incendiando o bosque,
Somos chuva temporã que traz vida.
Somos a beleza da vida e da morte.
Somos existência vivida.
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