quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Cegueira

Seus olhos que durante tanto tempo contemplaram a escuridão agora começavam a se abrir. Ele olhava para alguns lugares e via formas, contornos, aparências. Quando mudava a direção do olhar ficava cego. Mas não mais. Ele passara a ver. Não claramente, mas cruamente.
Descobriu o que o impedia de ver antes: a paixão e a proximidade.
Quando se está muito perto e apaixonado a visão perde sua agudeza. A paixão é como um veneno poderoso injetado diretamente nas meninas dos olhos para tirar-lhes a dança, para matar sua capacidade de ver.
Quando a distância chega perto e a paixão começa a declinar o espírito dos olhos volta. A música começa a soar novamente e a dança recomeça. 

As meninas de seus olhos estavam dançando outra vez. A negritude que via agora ganhava cor. Formas se formavam. Podia ver. Uma visão libertadora, mas que às vezes fazia com que preferisse ser cego.

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