segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O Som do Silêncio

Ele se sentou lenta e pesadamente. Sucumbiu ante o peso de seu corpo naquela débil cadeira de madeira que possuía um aspecto velho e gasto, como se fosse partir-se ao menor contato, mas que resistiu bem. Às vezes as coisas de aparência frágil resistem a grandes pesos.
Ali sentado ele ouviu. O som do silêncio. O som de todas as palavras não ditas e mal-ditas reverberando dentro dele. Ele ouviu silêncio onde outrora houvera música. E ele soube. Soube que o silêncio fala. Timidamente. Em sussurros. Às vezes aos berros. Através de mímicas. Através de olhares. O silêncio é sempre um dizer. Um dizer mais profundo que apenas quem aprendeu que há mais a dizer do que as palavras podem expressar sabe ouvir.
Ele ouviu também o vazio. Onde aquilo que deveria ser dito e não foi começou a fazer falta. Onde deveria haver dizer e nunca houve. Talvez porque não houvesse nada além de vazio. Se é verdade que nada havia a ser dito, jamais haveria silêncio, pois o silêncio só existe onde é preciso falar. O vazio, por sua vez, está onde nunca houve nada.
Permaneceu em meio ao ressonante silêncio e ao esmagador vazio. Esperando. Somente esperando.
Paciência. O silêncio fala. O silêncio fala o que a boca cala.
O vazio, embora mudo, também anuncia uma mensagem: nada. Nada houve a ser dito. Nada houve a ser calado. 
Nada. Onde ele queria que houvesse algo.
Realmente o mundo não é um pai amoroso que traz presentes. É um mestre cruel que ensina pelo abandono. Seu ensino é lento, doloroso, profundo. As pernas vacilam, mas com o tempo aprendem a suportar. O corpo em declínio um dia aprende a levantar. A lágrima a cair, talvez aprenda a voar. Ou não.
Talvez nada fosse tão importante afinal. Talvez no lugar do silêncio, tudo fosse vazio.
Vazio de cor. Vazio de sons. Vazio de formas. Vazio de sentimentos.
Somente uma possibilidade vazia.
Vazio de certezas e de dúvidas. Vazio de tudo. Puro vácuo. Puro buraco sem fundo em plena queda.
Bem ali. Naquela velha cadeira.

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